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A SEXUALIDADE APÓS OS 65 ANOS. O PRAZER É POSSÍVEL?

Atualizado: 21 de mar. de 2018

Nice Pereira Brandão *



A autora pretende despertar no leitor reflexões a respeito da expressão da sexualidade de pessoas com mais de 65 anos. Segue uma trajetória onde explica a maneira como trabalha com esta população, exemplificando com alguns casos nos quais teve sucesso, bem como fundamenta sua postura profissional na utilização da metodologia sociopsicodramática; criada por J.L. Moreno. Aponta, também, alguns dados compilados da primeira pesquisa específica desta área, realizada no Brasil pela Drª. Carmita Abdo, sobre o comportamento sexual de brasileiros e brasileiras. Encerra suas colocações afirmando ser possível o prazer sexual após os 65 anos de idade. Tom , como ponto de partida, a questão da longevidade do ser humano. Tal questão torna cada vez mais premente que profissionais da área da saúde física e mental estejam com seus olhares voltados para esta realidade. Fatos que há alguns anos não tinham destaque, nos dias atuais estão cada vez mais em pauta. Por exemplo, o casamento aos 99 anos de um grande empresário brasileiro; uma grande atriz, hoje com 97 anos, que faz questão de participar de um desfile carnavalesco com os seios à mostra. São pessoas que aparentemente não se envergonham do que sentem com relação à sexualidade. E as demais pessoas do nosso cotidiano, desta faixa etária? Homens e mulheres com mais de 65 anos, que ainda se sentem ativos sexualmente. Que desejam refazer sua vida sexual, mas que esbarram em conceitos e pré conceitos, valores e dogmas trazidos de uma educação tradicional em que determinadas posturas eram e são, ainda, condenadas. Como estão lidando com o fato de ainda “sentirem” desejo sexual por outra pessoa? Será que podem? Será que não estão infringindo nenhuma “norma”? A autora pensa que nesse momento, exólogos e educadores sexuais, tem condições de ajudar estas pessoas na realização de seus desejos.


Na era do sexo virtual, do Viagra, do Cialis, dos Sex Shops, amplamente divulgados pela mídia escrita e falada., é sabido o quanto é importante o cuidado com o corpo. É sabido da importância de estarmos sempre ativos social e profissionalmente. Será que é sabido e principalmente vivido, por esta faixa etária, que também é possível estarmos ativos sexualmente?

Será que estas pessoas, que já passaram dos 65 anos, se permitem os prazeres sexuais? Será que as mesmas se autorizam a quebrar tabus e preconceitos? Será que acreditam serem capazes de aos 80 anos terem prazer sexual? Estas e tantas outras questões esperamos levantar com este trabalho.


Nosso objetivo é estarmos atentos a este tema, visando acima de tudo, o bem estar e a saúde tanto física quanto emocional de homens e mulheres com mais de 65 anos. Não é por acaso que, atualmente, investigações venham sendo feitas nos sentido se buscar compreender, cada vez mais, esta fase do desenvolvimento humano, com todas as possibilidades de estar no mundo de maneira saudável.


E também não é por acaso que, a cada momento, me vejo refletindo sobre este tema, seja na minha prática clínica, uma vez que trabalho com esta faixa etária, seja por acreditar que enquanto estamos vivos é fundamental vivermos prazerosamente. Lembro das palavras de Jacob Levy Moreno, criador da Metodologia Psicodramática, em seu poema Divisa: “mais importante do que a ciência é o seu resultado, uma resposta provoca uma centena de perguntas”. A partir destes questionamentos e reflexões levantadas, espero atingir outras pessoas que também refletem sobre este assunto, de modo a estarmos todos voltados para um melhor estar no mundo.


Por acreditar na força da criação de Moreno, passei a trabalhar com os idosos que me procuram utilizando este referencial teórico. Moreno determinou como fundamental para o desenvolvimento do ser humano a teoria da espontaneidade e criatividade, dois dos pilares fundamentais de sua teoria. Para Moreno, todo ser humano nasce espontâneo, autêntico, puro, e a partir do instante que começa a entrar em contato com outros seres humanos, ou melhor, com o meio que o cerca, sofre influências do mesmo. Moreno assinala, ainda, que a espontaneidade é um fator que habilita o homem a superar se a si mesmo, a entrar em novas situações como se carregasse o organismo, estimulando e excitando todos os seus órgãos para modificar suas estruturas, a fim de que possam enfrentar suas novas responsabilidades. Acreditando nesta premissa, a utilização da metodologia sócio psicodramática possibilitou me, através de dramatizações, levar os clientes a experimentarem novas respostas a situações passadas.


É fundamental que possamos transmitir a estas pessoas que elas não estão impedidas de sentir e expressar seus prazeres sexuais, por não terem mais 20 anos de idade. O fato de, aos 65 anos, se sentirem aptas a terem relações sexuais deve ser visto como algo muito bom, pois não podemos negar que a experiência de vida e a maturidade conseguida através dos anos são muito valorosas. Ao trabalhar terapeuticamente, e não somente com as palavras, que muitas vezes são inibidoras, porém partir por um novo caminho, mais ligado à ação, a movimentação cênica, ao lúdico, percebi o quanto a utilização das técnicas psicodramáticas; duplo, espelho e inversão de papéis, sem esquecer o solilóquio, ajudaram estas pessoas a resgatar suas funções no que tange a sua sexualidade.


É sabido e comprovado que após uma certa idade, ocorrem mudanças anatomo fisiológicas que alteram a fisiologia da resposta sexual humana originando desordem sexuais: nas mulheres desbalanço hormonal, ressecamento da mucosa vaginal; nos homens disfunções eréteis, disfunção orgásmica. Partindo destes fatos reais que não podemos negar, é que desenvolvo minha crença na importância de um estado emocional equilibrado. E como conseguir tal estado? Propiciando a estes homens e mulheres a aquisição de novos valores e a se permitirem mudanças de atitudes e comportamentos no seu dia a dia. Lendo Cícero, em sua obra “Saber Envelhecer”, descobri a importância de resgatar no idoso sua capacidade de ser e estar no mundo. A citação “Os velhos não devem nem se apegar desesperadamente, nem renunciar sem razão ao pouco de vida que lhes resta” (Cícero, 1997), levou me a utilizar a conceituação teórica do desenvolvimento dos papeis de J.L. Moreno, que dizia que quanto mais papéis o indivíduo desenvolve, mais saudável ele é. Com o idoso, não se trata de desenvolver muitos papéis simultaneamente mas de levá los a descobrir novas formas de atuação nos papéis atuais. Como nosso objetivo de estudo é o papel sexual, penso ser neste papel que podemos fixar nossa atuação como profissional da área da sexologia.


Voltando a citar Cícero quando afirma “Perdemos o apetite de viver quando nossas paixões são saciadas”, retomo a importância de desenvolvermos nosso trabalho terapêutico, possibilitando que idosos venham a buscar novas paixões em suas vidas, no caso específico, novas formas de atingirem o prazer sexual. Isto pode ser viabilizado com a quebra de conservas culturais por eles assimiladas e cristalizadas ao longo de suas vidas.


BIBLIOGRAFIA


BEAUVOIR, Simone de. A Cerimônia do Adeus, seguido de entrevistas com Jean Paul Sartre Agosto a Setembro 1974. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. BRINK, T.L. Psicoterapia Geriátrica. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda, 1983. CÍCERO, Marco Túlio, 103.43 AC. Saber Envelhecer. L&PM Editoras S/A, 1997. COSTA, Elizabeth Maria Sene. Gerontodrama: A el ice em Cena. Estudos Clínicos e psicodramáticos sobre o envelhecimento e a terceira idade. São Paulo: Agora, 1998. FOUCAULT, Michel . Historia da Sexualidade. A vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições Graal Ltda, Vol.1, 2001. ________________. Historia da Sexualidade. O Uso dos Prazeres. Rio de Janeiro: Edições Graal Ltda, Vol.2, 1983. MARINEAU, René F. Jacob Levy Moreno, 188 1974: Pai do Psicodrama, da Sociometria e da Psicoterapia de Grupo. São Paulo: Agora, 1992. MATARAZZO, Maria Helena. Nós dois: as várias formas de amar. São Paulo: Editora Gente, 1995. MORENO, J.L. Psicodrama. São Paulo: Editora Cultrix, 1978. * Nice Pereira Brandão Psicóloga, Psicodramatista Didata Supervisora, Sexóloga e Educadora Sexual, Diretora do Delphos Espaço Psicossocial nice@delphospsic.com.br

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